terça-feira, 27 de outubro de 2015

PANORAMA FIDA 2015 - Laura Ávila

Laura Ávila no solo Bach
Foto: Aline Nascimento


O que seria de um festival de dança como o FIDA sem as surpresas de cada ano? Pois Laura Ávila está entre elas. A bailarina contemporânea de formação clássica emprestou suas linhas impecáveis e um raro talento dramático a solos criados por Gleidson Vigne, que capturaram de vez a plateia.

Na noite de sexta, estreou com Zabé, uma homenagem a Zabé da Loca, artista popular que toca o pífano com perfeição; foi descoberta aos 79 anos e hoje, aos 91, faz shows no Brasil inteiro. Nascida em Buíque, no Cariri Pernambucano, Zabé da Loca ("loca" é a gruta onde morou por 25 anos) inspirou a trilha eleita por Laura e Gleidson Vigne para compor seu solo, que começa ao som da voz da própria Zabé. 

Muitos artistas  escolhem dançar ao som de textos, mas o caso de Laura é diferente. A fala de Zabé é contundente e a artista soube pontuá-la com desconstruções delicadas, que têm um fio condutor no corpo. Logo depois a música vem e conduz o movimento - ou será que os rege? -, mergulhando a plateia numa aventura poética no sertão, corpo afora, dança adentro.

Laura Ávila trabalha a intensidade dos movimentos sem nunca esquecer a elegância necessária para que a beleza não a abandone. Em Bach, o segundo solo que apresentou no FIDA, usa a luz, o sentimento e as formas para nos embalar num ambiente de impressões etéreas, numa estética que lembra os tons da pintura de El Greco, em alguns momentos.

É raro a gente ver o ballet contemporâneo tão bem representado, com todos os seus elementos estéticos genuínos no cardápio. E o que é melhor: incorporando a cultura brasileira sem cair em banalidades.

Ave Laura Ávila.





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