sexta-feira, 23 de outubro de 2015

FIDA EM DESTAQUE NO AUDITÓRIO DA OI

Reportagem de Maurette Brandt (texto) e Norman Delgado (fotos)





Clara Pinto abre a mesa-redonda no Auditório da Oi, em Belém
Foto: Norman Delgado (Notícias da Dança)


Carlinhos de Jesus lembra do casal de irmãos de Belém que vendeu tudo e bateu no Rio depois da promessa de uma bolsa em sua academia de dança. Após serem acolhidos pelo artista, tornaram-se grandes bailarinos de sua companhia. Hoje, um deles está na Alemanha.
Ana Botafogo recorda que um dos primeiros convites que recebeu para dançar como bailarina profissional, antes mesmo de integrar a companhia do Theatro Municipal do Rio, partiu de Clara Pinto - que fez parte da história de Pinduca, o rei do carimbó, homenageado no Fida 2015.
Andrea Rodrigues viaja sete horas de lancha com seus bailarinos, desde Altamira, para conseguir pegar um avião e chegar a Belém para participar do Fida, todos os anos.
Depoimentos emocionados, histórias de vida, relatos compartilhados. Foi desta matéria, humana e forte, que se fez a mesa-redonda realizada no Auditório da Oi, em Belém, na sexta-feira, 23 de outubro, para falar do Festival Internacional de Dança da Amazônia, patrocinado pela operadora. A conversa informal, quase confessional em alguns momentos, trouxe à baila a importância de estimular a cultura no Estado do Pará e incentivar, por meio do Fida, a troca de informações e influências entre bailarinos de todas as partes do Brasil e também de outros países.


Mediada por Clara Pinto - criadora do FIDA, bailarina, professora que introduziu em Belém o método do Royal Ballet de Londres, ex-Miss Pará e Rainha dos Artistas  - a mesa-redonda reuniu uma seleta audiência de personalidades e pessoas comuns, todos envolvidos de alguma maneira com o Festival Internacional de Dança da Amazônia. Presentes o diretor da Oi em Belém, José Stelio, e o diretor da Oi Futuro, Roberto Guimarães, que veio conhecer de perto o festival. O objetivo do encontro foi ouvir e contar, registrar e reforçar as marcas que o Fida, em sua trajetória de 22 anos, vem deixando na memória cultural da cidade e da região - e na memória afetiva de muitas das pessoas presentes.

- Agradeço aqui ao Dr. Roberto Guimarães, da Oi Futuro, e ao Dr. Stélio, da Oi Pará, por estarmos realizando este encontro - disse Clara Pinto, ao abrir a mesa-redonda que contou com a presença de artistas, como a primeira-bailarina Ana Botafogo, o bailarino Carlinhos de Jesus e o rei do carimbó Pinduca, além da Presidente do Conselho Brasileiro da Dança, Gisela Vaz. - Temos também vários convidados - pessoas que fazem parte da trajetória do Fida. São professores, representantes de escolas e amigos do Fida, cujas histórias se entrelaçam com a nossa. Vou começar aqui pelo Carlinhos; quero saber, na sua opinião, qual a importância do Fida.


Abrindo um largo sorriso, Carlinhos de Jesus  rememorou seu percurso artístico e a carreira em pedagogia que viveu em paralelo até chegar à "bifurcação", em suas palavras, que o levou a optar pela dança.



Carlinhos de Jesus e Gisela Vaz durante a mesa-redonda
Foto: Norman Delgado (Notícias da Dança)

- Eu participo da vida cultural de Belém com a Clara Pinto muito antes do primeiro Fida - conta. - E foi aqui, nas apresentações e na famosa Matinê, também um projeto da Clara, que eu aprendi mesmo a me reconhecer como profissional e a entender que a dança de salão podia ser trabalhada profissionalmente mesmo. Foi o acolhimento da Clara e o carinho das pessoas em Belém que me ajudaram a  descobrir o verdadeiro caminho para minha carreira.

Entre as muitas brincadeiras, Carlinhos lembrou que "detestava açaí", mas que em Belém começou a provar (mesmo detestando) o açaí puro. - De tanto provar, acabei gostando e hoje sou fã - conta. - Tenho que encontrar um açaí me esperando no frigobar do hotel, senão fico muito contrariado - sorri.

Tomando sua própria carreira como exemplo, Carlinhos ressaltou a importância dos patrocínios culturais para movimentar a cena da cultura. - Até mudei o meu celular pra Oi quando cheguei aqui - sorriu o artista, parabenizando a Oi pela sensibilidade em apoiar o Fida, reconhecendo seu valor como ação cultural de alta relevância.




Ana Botafogo e Clara Pinto
Foto: Norman Delgado (Notícias da Dança)


Ana Botafogo também começou a dançar em Belém, sempre a convite de Clara Pinto, no início de sua carreira. - Mesmo antes do Fida e antes de eu entrar para o Teatro Municipal, dançava aqui. Depois veio o Fida e eu vim a quase todos. Só não vinha quando a agenda não permitia mesmo. E como já dancei todo o meu repertório de ballet na cidade, eu e o Carlinhos criamos uma nova coreografia especialmente para o Fida 2015, que vamos dançar no sábado - antecipa.
Pinduca foi o terceiro a falar, ainda sob o forte impacto do espetáculo "Pinduca e o Carimbó", apresentado na abertura do festival, que homenageou o cantor e compositor dentro do projeto Resgate da Cultura Paraense, com coreografia assinada por Marcelo Pereira, artista brasileiro radicado na Suíça.
- Eu fui tão vaiado quando comecei a modernizar o carimbó que as vaias acabaram por me estimular - brincou. - Quando vi a surpresa que a Clara Pinto me preparou, virei para o público e disse: - Vocês estão vendo o que está acontecendo aqui hoje? O carimbó está sendo  reconhecido de verdade! Depois que a gravadora Copacabana, em São Paulo, acreditou e investiu em mim, tenho recebido várias homenagens, até comendas, inclusive no exterior. Mas nada foi tão forte quanto ver o carimbó transformado em espetáculo e dançado no palco do Teatro da Paz! - emocionou-se Pinduca.
Gisela Vaz ressaltou o orgulho que o Conselho Brasileiro da Dança tem em ter Clara Pinto como sua delegada regional, por seu pioneirismo e ousadia ao realizar o Fida. - Sem dúvida é um dos grandes festivais de dança deste país - afirmou.



Pinduca 
Foto: Norman Delgado (Notícias da Dança)


O professor e coreógrafo Guivalde Almeida, de São Paulo, falou sobre a importância das trocas culturais proporcionadas pelo Fida. - A gente vem aqui e vê a dança que está acontecendo nessa região, com toda sua riqueza: temas indígenas, temas da natureza, muita coisa mesmo. O crescimento, aí, tem duas mãos: a gente aprende com os criadores daqui e eles também aprendem conosco. Essa contribuição mútua tem levado a grandes avanços, que só um festival como o Fida pode proporcionar - diz.
Em seguida Roberto Guimarães, diretor do Oi Futuro - instituto que gerencia os patrocínios culturais da operadora - apresentou-se a todos.Com formação de jornalista e também de ator, tem grande entusiasmo pelo trabalho que a Oi desenvolve na área da cultura, através do Oi Futuro, com destaque para os festivais.
- Gostamos muito de patrocinar festivais porque consideramos que são excelentes oportunidades de troca, e em grande intensidade. Procuramos estar próximos dos patrocinados e apreciamos demais o retorno que recebemos, pois os resultados é que fazem valer a pena. E não tem nenhuma interferência do marketing não, o conteúdo dos projetos fica inteiramente a critério dos patrocinados.
Ressaltando a dificuldade de marcar presença em todos os eventos que patrocina, dadas as dimensões continentais do país, Roberto Rodrigues disse estar curioso para conhecer o âmago do Fida.
- Vou lá conferir, e não com espírito de "avaliar", mas de aprender e também prestigiar o trabalho do Festival - conta.

Clara Pinto gentilmente solicitou também a minha opinião, já que, como jornalista, acompanho o Fida desde 2003. Senti-me muito à-vontade para falar de minha relação com o festival, ao qual cheguei pelas mãos do coreógrafo Fábio de Mello, meu amigo pessoal. Resolvi acompanhá-lo em seu primeiro ano como coreógrafo e diretor artístico do Fida. O que seria apenas uma viagem de férias transformou-se numa sólida ligação de amizade e admiração com o evento e com Clara Pinto. Naquele ano, escrevi espontaneamente duas matérias que foram publicadas no jornal O Liberal, como colaboração, sem assinatura. O material, que refletia todo meu entusiasmo por encontrar tanta riqueza cultural nessa terra, acabou repercutindo bem. De todos os múltiplos legados do festival, destaquei o fato de o Fida, pelas mãos de Clara Pinto, ser responsável por um fluxo regular de trabalho para muitos artistas de todo o país e do exterior, o que possibilita infinitas trocas em todos os sentidos.



Ana Rosa Crispiniano
Foto: Norman Delgado (Notícias da Dança)


Mais vozes, porém, viriam acrescentar emoção ao encontro. Ana Rosa Crispiniano, ex-aluna e colaboradora de Clara Pinto, agora participa com sua própria escola. - É um orgulho e um prazer estar no Fida, levar meus alunos, eu que fui também aluna e até trabalhei na produção - conta. - Tudo que sei, com certeza, aprendi com Clara Pinto - diz.
A bailarina Marieta, que representa o Grupo Nataraja, de danças devocionais indianas, disse que o Fida foi o único festival que abriu espaço para o grupo mostrar seu trabalho. - Nos outros lugares não havia lugar para aquele tipo específico de dança que nós fazemos, e com o Fida tivemos essa oportunidade de  mostrar nosso trabalho.
Uma jovem dançarina de sapateado, presente na plateia, diz que espera o Fida o ano inteiro. - É o único festival que  traz a Belém os grandes sapateadores - anima-se. - Sem o Fida, não teríamos isso.



Andrea Rodrigues
Foto: Norman Delgado (Notícias da Dança)


Andrea Rodrigues é professora de ballet em Altamira, a 1.200 km da capital paraense. Com um sorriso franco e contagiante, Andrea vibra ao relatar a longa colaboração com Clara Pinto e as transformações que disso decorreram. - Falo em nome de centenas de crianças que tiveram suas vidas transformadas pelo ballet. No início eu pedi: - Professora Clara, venha me ajudar. E ela foi, de barco (são sete horas de viagem e mais estrada), ensinar todo mundo com o máximo carinho. Sem ela, não estaríamos aqui. Hoje chego a Belém com os alunos e muitos deles jamais pisaram num teatro. Querem conhecer tudo, perguntam tudo, a luz, o lustre, as pinturas, onde é que acende e apaga. Isso muda tudo no mundo deles, pois aqui, no Teatro da Paz, eles conseguem enxergar possibilidades. - Peço que a Oi sempre patrocine o Fida, para que essas crianças que vêm com tanto sacrifício continuem a ter isso - emocionou-se.

Colaboradora da Oi e ex-aluna de Clara Pinto, Jane Susy foi quem fechou com chave de ouro, na opinião de Roberto Rodrigues, a mesa-redonda.
- Todo ano fico atentíssima ao sorteio dos ingressos do Fida, mas este ano me enrolei e fiquei sem. Por sorte um colega que tinha ingressos mas não poderia ir, me deu os dele. Meu Deus, nem acreditei - conta. - Imediatamente liguei para minha mãe, pois o Fida é o único evento em que ela vai. Disse: "Mamãe, vamos nos arrumar muito, para a gente ver a Clara Pinto sempre produzida, recebendo os convidados." Eu adoro o Fida, aprendo muito sempre e estou ansiosa para ver este ano - disse.

- Depois de um depoimento de  uma colaboradora da Oi e ex-aluna da Escola Clara Pinto, o que mai se pode dizer? - resignou-se, com  um sorriso, o diretor Roberto Guimarães, ao encerrar o encontro.



Mesa-redonda do Fida no Auditório da Oi: clima de alegria e descontração
Carlinhos de Jesus, Gisela Vaz, Roberto Rodrigues, Clara Pinto, Ana Botafogo e Guivalde Almeida
Foto: Norman Delgado (Notícias da Dança)




                                                                                                             

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