quarta-feira, 4 de novembro de 2015

PANORAMA FIDA 2015: Direto de Fortaleza, o duo "Lado a lado"

Naiane Freitas e Felipe Sousa em "Lado a lado"
Foto: Aline Nascimento


É esta a imagem que se revela no palco do Teatro da Paz, tão logo a luz se acende: duas pessoas atadas. Ou estariam presas numa teia? Pronto, nossa atenção já foi capturada - e ligamos nossas antenas para saber o que vai acontecer daí por diante.

O duo Lado a lado, interpretado por Naiane Freitas e Felipe Sousa, da BCAD Companhia de Dança de Fortaleza, revela um engenhoso jogo de sedução e poder, um campo de disputa habilmente construído pela coreógrafa Atenita Kaira com movimentos aparentemente secos, mas que revelam muita coisa além das aparências.

O deslindar-se dos fios é uma dança de silêncios, quase como um movimento no tabuleiro de xadrez: olhos nos olhos, concentração total, cada um sabendo que o próximo gesto pode abrandar ou complicar tudo. A sensação é que há um subtexto de tensão e embate, mas nada é explícito e sim sugerido. Acompanhamos os movimentos do casal sem elementos para antecipar nada; e o que se desenrola é uma sucessão de jogadas em que movimento, drama, música e técnica nos envolvem num clima de dúvidas, perplexidade e poesia. 

Os bailarinos são perfeitos na condução desse mergulho em profundidade. Logo que começam a se soltar das peias, instala-se uma certa ansiedade: como será o desenlace? Logo a seguir, a surpreendente leveza e fluidez dos movimentos, tanto dos dois quanto do fio em si, revela o domínio absoluto que os bailarinos têm da coreografia e também do drama, ministrado na dose certa para nos instigar e nos atrair ao mesmo tempo. E não perdemos nada, pois é impossível tirar os olhos deles ou do fio. Tudo corre junto no mesmo ritmo, entre vibração e silêncio, quase como a respiração da gente.

Eis que o fio, ao mesmo tempo que foge, enleia - e lá vão os dois na mesma valsa que os separa e que os une. Assim como na vida e na maioria dos relacionamentos, em que o encontro e as diferenças se alternam. Ou convergem para algum lugar ou encontram destinos opostos.

Em Lado a lado, o fio acaba por vencer e novamente envolve o casal, tal como no início. Ainda assim, não sabemos se há de fato um vencedor ou dois vencidos: os olhares permanecem em riste, os corpos rígidos, e o momento seguinte fica para nossa imaginação. 

A simples sugestão, lançada no ar com o final da música, é a alma de Lado a lado, uma obra feita de sutilezas e de competência, tanto da coreografia quanto do desempenho dos bailarinos e da direção precisa, assinada por Janne Ruth.

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